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Por Milene Marques Ricardo
@MaitreyaEco

“Muito me surpreende Você morando na Chapada dos Veadeiros e trabalhando como guia! Você tinha medo até de mosca!!”
Começo esse texto com uma das frases que ouvi quando decidi mudar minha vida como advogada de São Paulo para guia de turismo na Chapada dos Veadeiros.

De lá pra cá passei por um período de adaptação – que continua – e venho observando, de forma positiva, as diferenças entre a vida na cidade e na Natureza e seus aprendizados.
No início, tinha medo de ir a lugares sem Iluminação para observar o céu, porque, na cidade, esses lugares devem ser evitados, por conta da violência e insegurança.
Agora não hesito em buscar os lugares mais escuros para ver a Via Láctea como em poucos lugares do mundo se é possível observar.

Tomar chuva na cidade sempre foi muito desconfortável e inconveniente. Demorei a notar como pode ser libertador tomar chuva na trilha sem encarar isso como um problema ou algo muito incômodo. Afinal, chuva também é benção e é lindo de admirar, porque água é vida!
Pela primeira vez assisti a uma tempestade de raios. E só na terceira ou quarta vez é que tive coragem de sair do carro e apreciar a beleza das luzes desse fenômeno.

E foi aqui no Nordeste goiano que comi e roí pequi a ponto de entender a expressão “fulano não vale mais que um pequi roído” (rs).
E faço questão de expor minhas vulnerabilidades (e medos) diante dessas diferenças para convidar o turista que vier conhecer a Chapada dos Veadeiros a abrir-se para o novo, para o diverso que, apesar de o tirar de sua zona de conforto, pode ser bom!
Pra Você, que é da cidade como eu, arriscar-se ao diferente é o convite!

Ah! E teve também o fenômeno da bioluminescência dos vagalumes no breu total!! Que espetáculo!!
Me acostumei com a presença (constante!) dos insetos e aracnídeos e repteis (sim, aqui estou falando principalmente das cobras!), bichos tão escassos na cidade e tão odiados ou temidos.
Aqui aprendi que o Cerrado, pouco comentado no Sudeste (onde eu nasci), é o berço das águas e a savana mais biodiversa do mundo!
Descobri expressões que “nunca que tinha ouvido”, tais como “foi bom a ufa!” (muito bom) ou “comi doce até ripunar (repugnar…) ou “dormi com a cabeça rebuçada” (coberta).
E provei frutas muito diversas, com nomes e sabores fora do usual. Poucos de São Paulo já provaram araticum, ingá ou cagaita (essa aqui é perigosa…rs)