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Por Jaime Gesisky

Agricultura, turismo gastronômico e conservação do Cerrado podem rimar. Prova disso é a produção de café orgânico que se desenvolve no entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, mais precisamente na Fazenda Volta da Serra, localizada a 27 quilômetros do município de Alto Paraíso de Goiás.

A região é propícia ao desenvolvimento do café, já que está em uma faixa de altitude de cerca de 1,2 mil metros acima do nível do mar, o que proporciona clima ameno e uma combinação de fatores que favorecem a alta qualidade dos grãos.

Além disso, a diversidade de solos e a presença de nascentes e rios fornecem recursos essenciais para a irrigação e cultivo sustentável do café.

Santuário

Não é à toa que a fazenda também é conhecida como Santuário Volta da Serra. São cerca de dois mil hectares – algo próximo a dois mil campos de futebol. Cerca de 80% dessa área está conservada, com remanescentes de Cerrado que abrigam espécies únicas da flora e da fauna, algumas delas ameaçadas de extinção, como o arisco logo-guará, que costuma dar as caras por ali. 

É na Fazenda Volta da Serra que se encontram as nascentes que formam o rio São Miguel, com as cachoeiras do Cordovil, Poço das Esmeraldas, Rodeador e Encontro. Da fazenda, o rio serpenteia pelo Vale da Lua, e desce, passando por Raizama, Morada do Sol, até se encontrar com o rio Tocantinzinho, na divisa com Colinas do Sul – cartões postais da Chapada dos Veadeiros.

Volta da Serra empresta o nome aos cafés especiais produzidos ali. A lavoura ocupa apenas oito hectares da fazenda, mas a produção já chega a mais de 25 mil pés de café. Predominam as variedades mundo novo, araras e catuaí amarelo e vermelho

Proprietário da fazenda, o administrador de empresas Lauro Jurgeaitis conta que quando chegou, no final da década de 1980, já havia alguns pés de café plantados por antigos ocupantes da área. O cafezal fora abandonado, mas algumas plantas remanescentes bastaram para dar origem à atual plantação. 

“O gado era o principal negócio, até então”, lembra o empreendedor. “Depois de fazermos um inventário minucioso do ambiente e deixarmos boa parte da terra destinada à conservação e ao turismo, percebemos que podíamos aproveitar o potencial da terra para o cultivo do café e investir no produto como uma maneira sustentável de plantar e agregar valor, conservando também o Cerrado”. E assim está sendo.

Os cafés especiais da Fazenda Volta da Serra crescem em sistemas de sombreamento, agrofloresta e consórcio com outras culturas como feijão, laranja, mandioca, gengibre e cardamomo. “Isso garante a diversificação e ajuda a manter a biodiversidade”, explica Jurgueaitis. 

E a diversidade de plantas nativas e suas sucessivas florações são fundamentais a apicultura, outro negócio verde que prospera na fazenda Volta da Serra.

Além de gerar serviços ecossistêmicos fundamentais para a região, como a polinização, a apicultura põe um item a mais na cesta de produtos da Volta da Serra.

O mel da fazenda já supre mercados e empórios de vários municípios da Chapada dos Veadeiros, além do Distrito Federal. 

O trabalho com as abelhas também se destaca na pesquisa científica, com mais de 70 espécies catalogadas ao longo de mais de duas décadas na fazenda por alunos do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB) sob orientação do professor Antônio Aguiar. 

Café certificado

Aos poucos, a produção antes artesanal do café da Volta da Serra vai agregando técnicas de manejo com a ajuda de alguns equipamentos, dando escala ao projeto. Depois de colhido e seco nos terreiros suspensos na fazenda, o café segue para processamento – torra e embalagem – no Distrito Federal. 

O café conta com o selo de certificação participativa pelo Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC – Cerrado), vinculado ao Sindicato dos Produtores Orgânicos do DF.

O certificado confirma a busca pela qualidade e o compromisso com o meio ambiente, colocando o café Fazenda Volta da Serra na preferência de consumidores conscientes. 

A fazenda Volta da Serra oferece aos visitantes degustação dos cafés especiais e do mel. As iguarias também podem ser degustadas aos sábados pela manhã na Feira do Produtor Rural de Alto Paraíso, onde é possível provar os sabores desse terroir único.